Esse tema sempre vem à baila nos grupos sobre Arquitetura e Engenharia. E o problema é sempre o preço praticado "pelo mercado".
Já estive em debates em que empreendedores alegavam contratar projetos na faixa de 1% do custo do empreendimento., quando muito, 1,5%.
Aí eu lembro dos estudos que já li que demonstravam que 5% dos custos de obra derivam de falhas de projetos (ou seja, o projeto é percebido como fonte de custos e não de economias). Para que pagar mais em algo que gera custos?
Quanto a isso os projetistas respondem basicamente o seguinte: “la garantia soy jo”. “Tenho anos de experiência, tenho equipe, usamos softwares de última geração, etc.” E os projetos continuam gerando 5% dos custos.
Aí lembro dos poucos clientes que nos pagaram valores justos pelos projetos e das economias que geramos pra eles, bem superiores ao valor do contrato. Mas é difícil achar esse cliente. Tão difícil que já desistir de procurar, dá trabalho e desgosto demais.
Só pra esclarecer, não estou dizendo que não cometemos erros também, mas que temos consciência disso, o que nos faz reduzi-los, porque trabalhamos nas causas destes erros.
Lembro também da quantidade de projetistas (todos experientes e com softwares de última geração, mestrado, até doutorado) que, se não fosse nosso olhar crítico, tinham gerado 5% de custos adicionais. Lembro da luta que é fazer esses projetistas entenderem que cometem erros no processo de trabalho. Um equívoco num dado de entrada mal estudado nos dimensionamentos, falta de pesquisa de soluções mais criativas para problemas, excesso de confiança nos dimensionamentos dos softwares que não erram (como se fazer conta fosse o problema), compreensão da situação do cliente limitada pelo viés estritamente técnico, foco no edifício e não no negócio do cliente etc. etc. etc. etc.
Acreditem, já vi um único dado de entrada equivocado (numa única especialidade) gerar 3% a mais de custo no empreendimento (alguns milhões a mais que o custo do projeto). Por que o dado estava equivocado? Porque havia uma falha no processo de levantamento de dados por falta de visão crítica do projetista sobre a operação do cliente. Isso, pra ficar só neste exemplo. Coisas do tipo: “eu perguntei pro funcionário do cliente e ele me passou o dado (um dado vital para o dimensionamento), então acreditei na palavra dele!” Um processo de levantamento de informações sem garantia de qualidade. Estimulado pelo feeling da experiência, fiz uma comparação daquele resultado com outros empreendimentos com alguma similaridade (opa, essa pesquisa é obrigação do projetista, não?) e percebi o desvio. Mas o dimensionamento estava perfeito (eu conferi linha por linha da memória de cálculo). Apertei até achar o tal dado equivocado, que foi levantado com um funcionário que nunca exerceu a tarefa que originava o tal dado.
Lembro do tanto de erros que já achei em projetos e planilhas que nem eram pra eu olhar, mas estava sobre a mesa (olhar de coordenador de projetos é treinado), alguns poucos minutos já é suficiente pra identificar erros grosseiros.
Não, o problema não é precificação dos projetos, é a qualidade deles. Mas tente discutir qualidade de projetos e a discussão descamba pra compatibilização e uso de tecnologias (como se isso fossem os principais ou únicos requisitos da qualidade). Já cansei de falar, projeto medíocre pode ser compatibilizado e desenvolvido nos melhores softwares.
Mas, como o cliente já sabe, até mesmo por vivência, que vai pagar 5% a mais pelas falhas de projeto, prefere não pagar o que os projetistas em geral dizem ser bom (“la garantia soy jo”). É traumatizante a experiência de pagar “caro” e ter os mesmos problemas.
Como demonstrar para o cliente que seu processo de trabalho garante qualidade independentemente de você (afinal é um processo produtivo e deveria independer das pessoas que o operam)? Essa sim, é a questão que merece discussão e está na base da precificação. Mas quem quer encarar esse debate árduo?
Todo mundo frequenta restaurante caro se a qualidade da comida e a experiência do atendimento for realmente garantida e satisfatória.
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